segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dez estrofes para a despedida de um velho

Abro as minhas asas
Veja como o mundo é belo
Familias sorridentes em suas casas
avós com seus netos

A tarde o cheiro de bolo
no colo um noveo em rolo
Um programa qualquer na TV
onde um mago o futuro prevê

No bule o café quente
Acalma a mente
enquanto o corpo, simplesmete
fica dormente

Me deito no rede
com meu cobertor de vento
um quadro na parede
me lembrar, tento

A memória já me falha
As juntas rangem
Folhas, se juntam na calha

O que é duro de viver é doce de lembrar
Lembro me de tudo, menos do retrato,
da inocência, da juventude, do cheiro no ar
Porém o nome me falta, e cresce o mato

Envolta de mim, 
Afogando as lembranças
que juntamos nas andanças
Simples assim

Rego as minhas flores
Obrigado por esconder as minhas dores
nem todos podem ver
tudo o que temos para esconder

E o meu jardim verdejante
Vibra incessante
Como se a vida fosse para sempre
como achávamos e diziamos "Arrisque-se", "Tente"

Estou desaparecendo
Indo para o desconhecido
e nem sei se estou descendo ou subindo

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Soneto da indecisão

Se já estou no meu final
para que conquistar quem amo?
No fim só sobrará dor e lágrimas
para que então esta saudade?

Logo direi Tchau
então irei para outro plano
não nego que te amo, até demais
mas logo estarei em outra cidade

Vale a pena esta data de validade?
Deixar para trás o orgulho e a vaidade
ou abandonar a solidariedade?

Condenar quem amamos, por nós?
por apenas alguns momentos de felicidade.
Bem que poderiam durar a eternidade

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Balada do Pato

Certa vez, em um dia tenebroso, escuro e bem chuvoso
estava um pato vagando em um deserto árido
E pensando onde havia torrado a sua vida
se lembrou de uns anos atrás e começou a querer comida

Como a sua existência, principalmente para a ciência
havia sido imprestável, algo imaginável
Então se lembrou, da pata que amava e abandonou
para realizar seus sonhos egoístas, de ser barista, stripper e ator de filme pornô

Perdido nesta vida, nas drogas mergulhou, cheirou e injetou
Quando não restava mais alegria, uma pílula ele engolia

A vida mudou, na loteria ele jogou, acertou e ganhou
Comprou uma ferrari, jatos e quadros de portinari
tinha uma casa, dois cachorros, 3 piscinas e um lago aquecido
Todos os dias a casa vivia cheia de patas, mulheres e alguns travestis.

E foi então que a tristeza do pato apareceu, um traveco ele comeu
Pegou AIDS, torrou a grana em tratamento e clareamento
Já pobre, ele ia andando pelas ruas apenas nu
enquanto pensava: "Será que algum dia acharei a pata que me amava?"

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Lembranças mortas

Fotografias em preto e branco
o cheiro do seu perfume
sua postura no banco
as luzes dos vagalumes

Ainda que se vá desta terra, vives
ainda que presa a um caixão, estás livre
ainda que teu corpo não movas, tu danças
ainda que enterrada, tu voas

Podes não estar viva na terra
mas o mundo da mente jamais erra
nem que apenas na minha mente
as lembranças tornam alguém sobrevivente

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Ecos do Tempo

Ouço um grito distante
Sinto o cheiro do pó
Lembranças angustiantes
O espírito só

Coisas passadas, coisas futuras
os olhos da moça, desesperados
os erros do passado, nos ombros, pesados
quem sabe agora a fruta está madura

As coisas se repetem diante dos meus olhos
refazendo o ciclo, ecoando no tempo
aos gritos passados fico atento

quando percebo a lágrima, eu a conforto
Os erros do passado, os ecos do futuro
A poeira das lembranças, tão vivas, quase sumo

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Essa Fada

Pó de tempo
Cheiro de vento
Clarão de luz
Corpos nus

Essa fada, a madrinha
Vem voando
vem gingando
Abusando das criancinhas

Espalhando pó de tempo
Semeando os fortes ventos
para cultivar os sentimentos

As criancinhas crescem
as fadas desaparecem
mas as marcas permanecem

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